Falta de AstraZeneca suspende vacinação em 5 estados, Rio e São Paulo usam imunizante da Pfizer na segunda dose
Publicado em 10 de setembro de 2021
Moradores da cidade do Rio que tentam se vacinar com a segunda dose de AstraZeneca estão tendo dificuldade para encontrar o imunizante contra a Covid-19 em postos do município. Ao chegar aos locais, as pessoas são informadas por atendentes que a vacina está em falta e logo lhes é oferecida a troca pela da Pfizer. A maior parte das pessoas está concordando com a mudança. Poucos fazem objeção. Em São Paulo, os postos também estão sem AstraZeneca e o governo do estado anunciou que vai começar a aplicar o imunizante da Pfizer em quem está com a 2ª dose atrasada.
— Eu tomei a primeira dose em 18 de junho. No dia 10 de setembro, estava marcada a segunda dose da Astrazeneca. Foi surpresa para mim. Tinha visto na TV que já estava faltando em SP, mas achei que no Rio ainda tinha. A agente da triagem já estava comunicando na entrada que não havia Astrazeneca para a segunda dose hoje. Uma mulher que estava na minha frente desistiu, foi embora sem tomar a vacina dela, que também era segunda dose da Astra — disse a microempresária Andrea Barbosa, que se vacinou em um posto na escola municipal Santo Tomas de Aquino, no Leme, na Zona Sul do Rio.
Das 434 unidades abertas até 19h na capital paulista, nenhuma tinha o imunizante da AstraZeneca, site da Prefeitura da capital que mostra a situação dos postos. O governo de São Paulo culpa o Ministério da Saúde pela falta do imunizante e informa que, além da capital, cidades da grande São Paulo também sofrem com a falta da vacina.
— A agente explicou que, na falta da Astrazeneca, a substituição pela Pfizer era recomendada pelo Ministério da Saúde. Eu já tinha lido sobre a intercambialidade de vacinas, não me preocupei muito. Embora imagino que o ideal seja tomar do mesmo fabricante. Mas em situação de pandemia, o importante é não ficar sem a segunda dose, né? — acrescentou.
Situação parecida viveu um morador da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, que foi se vacinar na quinta-feira na Cidade das Artes, no mesmo bairro.
— Assim que apresentei a minha a caderneta de vacinação, a atendente veio logo me oferecendo a Pfizer. Eu estranhei, afinal a minha primeira dose tinha sido da AstraZeneca. Ela me explicou que a Astra estava em falta e que a mudança para a Pfizer tinha sido autorizada — declarou ele, que preferiu não ser identificado. — Eu aceitei, queria me vacinar de qualquer jeito. Duas pessoas na minha frente também concordaram com a alteração. Uma mulher chegou a me dizer que estava satisfeita com a mudança e que queria tomar Pfizer desde o início — completou.
Em nota, a Secretaria municipal de Saúde informou que “o estoque de AstraZeneca do município do Rio está no final, como era já previsto devido ao comunicado da Fiocruz sobre atraso na entrega do insumo ao Ministério da Saúde. Algumas unidades já estão apresentando falta da vacina para a segunda dose e, conforme planejado, está sendo ofertada a intercambialidade com vacina heteróloga (D2 da Pfizer), conforme disponibilidade. Os usuários que, por algum motivo, não possam utilizar a vacina da Pfizer serão inseridos em uma lista de espera na unidade de saúde e comunicados assim que novo lote da AstraZeneca for entregue ao município”.
Polícias Civil e Militar suspendem 2ª dose da AstraZeneca
A falta de AstraZeneca também está sendo sentida nas polícias Civil e Militar, que comunicaram a seus agentes que a vacinação com a segunda dose do imunizante realizada nos batalhões está suspensa no momento. A informação consta nos boletins internos das corporações da última quinta-feira, 09. Nenhum dos comunicados traz uma data de previsão de retomada da imunização.
De acordo com o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, há possibilidade de a vacina da AstraZeneca acabar no município até a próxima semana. No entanto, essa possibilidade não deve atrasar os que precisam completar o esquema vacinal uma vez que o estoque e o cronograma de novas entregas do imunizante da Pfizer são o suficiente para atender também a este público.
A intercambialidade (mistura de imunizantes) foi aprovada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) e confirmada pela secretaria municipal da capital no mês passado. Em nota, a pasta estadual destacou que a “decisão foi tomada em conjunto com a equipe de especialistas do Conselho de Análise Epidemiológica que assessora a vigilância”. Apesar disso, os boletins das corporações não citam essa possibilidade. A SES não falou sobre a falta de doses nem sobre a previsão de entrega de novas remessas de AstraZeneca ao estado.
Segundo o informativo da PM, a paralisação se dá “devido a não chegada dos insumos na Secretaria Estadual de Saúde”. A corporação diz que os agentes que já estiverem na data para completar o esquema vacinal com a D2 podem buscar por atendimento em postos de saúde fora dos batalhões, e que seja apresentado o comprovante na corporação para atualização do cadastro interno.
“O Comandante Geral no uso de suas atribuições legais e atendendo proposta da Diretora Geral de Saúde informa que a Campanha de Vacinação contra COVID-19, para ser realizada a administração da 2ª dose da vacina AstraZeneca, realizada pela Equipe do SASP para os policiais militares da ativa será interrompida, devido a não chegada dos insumos na Secretaria estadual de Saúde”, diz trecho do boletim da PM.
Já no comunicado da Polícia Civil, é avisado apenas que há suspensão da D2 e que os agentes serão avisados sobre o retorno da imunização.
“(…) Comunica a todos os policiais civis e colaboradores que, por motivos de força maior, está suspensa a aplicação da 2ª dose da vacina AstraZeneca, indicada na carteira de vacinação de cada servidor.
Assim que for restabelecida a vacinação, estaremos informando aos policiais Civis e colaboradores.”
A vacinação contra a Covid-19 nos batalhões para agentes de segurança da ativa no Rio é realizada desde 14 de abril, que também ocorreu de forma escalonada por idade.
No mês passado, a Secretaria estadual de Saúde (SES) autorizou o uso da segunda dose da vacina contra a Covid-19 da Pfizer em pessoas que receberam a primeira da AstraZeneca. Na época, a pasta destacou que a intercambialidade (mistura de imunizantes) só poderá ser colocada em prática “caso o estado do Rio de Janeiro não receba doses do imunizante Oxford/AstraZeneca em quantidade suficiente para completar o esquema vacinal de quem já recebeu a primeira dose”.
Procuradas, as polícias Civil e Militar não retornaram.
Redução de volume de entregas previsto
Nas últimas semanas, a Fiocruz retardou seu cronograma de entregas da vacina da AstraZeneca para todo o Brasil por falta do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) importados da China. Eles serão necessários para a fabricação do imunizante no Brasil até que a Fiocruz inicie a produção de IFA nacional, o que deve acontecer em outubro. Além disso, já estava prevista a partir de julho uma redução nos volumes entregues mensalmente pelo instituto ao Plano Nacional de Imunizações (PNI), devido ao próprio cronograma de envios estabelecido em contrato diretamente com o Ministério da Saúde.
Portanto, a escassez da vacina da AstraZeneca nos meses de agosto e setembro já estava no horizonte dos gestores. Em preparação para o novo cenário, a cidade do Rio de Janeiro chegou a liberar, no mês passado, a aplicação de uma segunda dose de Pfizer em quem tomou a primeira de AstraZeneca. A decisão, anunciada à época com o pretexto de estimular a procura pela segunda injeção, extrapolou para todos os públicos uma orientação da Secretaria estadual de Saúde (SES) divulgada dias antes, segundo a qual, em caso de falta de AstraZeneca no posto, os vacinados com a primeira dose dessa vacina poderiam tomar a segunda de Pfizer.
O secretário municipal de Saúde da capital, Daniel Soranz, diz que a vacina da AstraZeneca pode se esgotar no município até a semana que vem, para a primeira dose e também para a segunda. Mas ressalta que, considerando o estoque atual de vacinas da Pfizer da cidade e as previsões de entregas do laboratório alemão estabelecidas em contrato com o governo federal nos próximos meses, há doses suficientes do imunizante para a aplicação da segunda injeção tanto nos vacinados com a primeira dose da própria Pfizer quanto naqueles que iniciaram seu esquema vacinal com a fórmula da AstraZeneca.
— Em todo o Brasil, temos agora uma quebra da produção da vacina da AstraZeneca, anunciada pela própria Fiocruz. A previsão é de que aconteça uma interrupção de três semanas nas entregas, e já estamos recebendo quantidades muito menores. Já sabíamos que faltaria a AstraZeneca para a D2, e isso vai acontecer em muitos locais. Por isso, há cerca de quatro semanas autorizamos a segunda dose da Pfizer em quem tomou AstraZeneca. Não há nenhum problema no Rio com essa interrupção, já que a combinação dessas vacinas é segura e tão ou mais eficaz — explica Soranz.
Ele lembra ainda que uma nova remessa da vacina da AstraZeneca está programada para chegar às instalações do Ministério da Saúde na próxima semana.
Previsão de novas doses
Em nota, a Fiocruz informou que recebeu, na última sexta-feira, mais um lote de IFA suficiente para a produção de 4,5 milhões de doses. Segundo o instituto, a remessa, somada às duas anteriores recebidas no mês de agosto, comporá as entregas ao Ministério da Saúde no mês de setembro. “Com o novo lote, já estão asseguradas para este mês cerca de 15 milhões de vacinas. O quantitativo de doses a ser entregue em setembro poderá ser reajustado conforme a chegada de novas remessas de IFA”, diz o comunicado.
Responsável pela produção das vacinas, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) afirma que tem capacidade de produção superior à de disponibilização do IFA e aguarda a confirmação das datas para a chegada dos próximos lotes do insumo ainda no mês de setembro.
Como as remessas de IFA previstas para agosto só chegaram ao país no fim do mês passado, entre os dias 25 e 30, as entregas do mês de setembro estão programadas para se iniciar apenas na semana que vem, informa o instituto. Afinal, todo o processo desde a chegada do insumo até a entrega da vacina leva cerca de três semanas, incluindo o período de controle de qualidade das vacinas. “Todas as doses relativas ao lote de IFA recebido em 25/08 já foram produzidas e estão na etapa de controle de qualidade. Parte do lote recebido em 30/08 também já foi produzida. Neste momento, há 6,1 milhões de doses na etapa de controle de qualidade e o restante em produção”, escreve a Fiocruz.
O instituto pontua ainda que a farmacêutica AstraZeneca “tem garantido entregas mensais de lotes de IFA, conforme acordado. No entanto, a Fiocruz tem buscado acelerar o envio das remessas junto à farmacêutica de forma a garantir entregas semanais ininterruptas”.